top of page

A psicoterapia é um processo, e não uma solução mágica

  • Foto do escritor: Fernanda Lunardi
    Fernanda Lunardi
  • 16 de set.
  • 3 min de leitura

Um caminho em espiral formado por pedras arredondadas sobre um leito de areia clara, em um jardim verde. A composição minimalista transmite calma, repetição e processo, simbolizando o percurso terapêutico.
Na psicoterapia, cada volta do caminho nos leva mais fundo em nós mesmas.

Algumas pessoas chegam ao consultório esperando mudanças rápidas, quase como quem toma um remédio para dor imediata. Mas a psicoterapia é um caminho de construção, repetição e descoberta. Um processo. E como todo processo, exige tempo, constância e entrega.


É comum que, no espaço terapêutico, as queixas se repitam, e situações que parecem já terem sido superadas voltam à tona. Emoções antigas reaparecem, isso não é um erro do processo, mas parte essencial dele. A repetição é uma linguagem da alma, e o contexto terapêutico é o lugar seguro onde essa linguagem pode finalmente ser ouvida, acolhida e ressignificada.


A dor se repete até ser escutada, sentida e compreendida. Essa é uma das verdades mais profundas da psicoterapia. As dores emocionais voltam porque ainda carregam algo não resolvido, algo que precisa ser visto com clareza, cuidado e escuta.


Existem muitas práticas complementares que podem ser valiosas no cuidado emocional. Mas é importante compreender a diferença entre terapias alternativas que são ocasionais e o compromisso com um tratamento psicoterapêutico. A psicoterapia é um processo, e não uma solução mágica. Ela acontece em continuidade: encontros semanais com um psicólogo que acompanha as camadas da sua história, observa os padrões que se repetem e sustenta, junto com você, um caminho de transformação.


Na psicoterapia, o que transforma não é apenas o conteúdo das conversas, mas o vínculo que se constrói. A relação entre terapeuta e paciente é, muitas vezes, o elemento mais potente do processo. Mais do que a abordagem teórica, importa que exista confiança, empatia, escuta e liberdade para ser quem se é, sem medo de julgamentos.


Você já reparou como padrões emocionais se repetem na vida? Repetimos medos, inseguranças, conflitos. Repetimos dores antigas com novas pessoas. E, muitas vezes, essas repetições têm raízes em vivências da infância, quando nossos mecanismos de defesa foram formados. É por isso que, na psicoterapia, repetir uma queixa não significa estagnação: significa que aquela dor ainda tem algo a dizer.


No contexto do cuidado terapêutico, essas repetições deixam de ser inconscientes e passam a ser observadas. O que se repete pode ser compreendido, e o que é compreendido pode ser transformado. Esse é o ponto central: a repetição não é fracasso, é matéria-prima para a mudança.


Na psicoterapia corporal, como a que eu pratico, essa escuta acontece também através do corpo. Muitas vezes, o que não é dito em palavras é expresso em dores, tensões, sintomas físicos. O corpo registra as experiências emocionais e pode ser uma via poderosa de acesso ao inconsciente.


Sentir um nó na garganta, uma dor nas costas, um aperto no peito... tudo isso pode estar carregado de significados. Ao integrar corpo e mente no processo terapêutico, abrimos espaço para uma reconexão mais profunda com quem somos de verdade.


O processo terapêutico se desenvolve com o tempo. A frequência dos encontros semanais é o que sustenta o mergulho, dá ritmo à transformação e permite que os insights da sessão reverberem ao longo da semana. Muitas vezes, acontecimentos significativos emergem justamente pela proximidade do próximo encontro. Isso não acontece da mesma forma em terapias esporádicas.


Uma boa analogia para a questão da repetição é o filme “Feitiço do Tempo” (em que há o dia da marmota). O personagem principal vive o mesmo dia repetidamente, até que comece a transformar suas respostas. Assim também acontece com nossos padrões emocionais: eles se repetem até que possamos olhar para eles com consciência e escolher outra forma de agir, pensar e sentir.


E como na conhecida história do “buraco na calçada”, a transformação acontece assim: primeiro, você cai no buraco e se sente perdido. Depois, você cai e sabe que está no buraco. Em seguida, você vê o buraco e escolhe desviar. Até que, finalmente, você escolhe outro caminho.


A psicoterapia é um espaço de enfrentamento, cuidado e reconstrução. É onde você pode repetir, cair e levantar, até encontrar novas formas de ser, sentir e viver. É onde as dores antigas ganham voz, e você pode, aos poucos, deixar de sobreviver, para começar a viver com mais verdade.


Fernanda Lunardi é psicóloga, facilitadora do autoconhecimento e especialista em individuação corporificada. Seu trabalho une a psicologia analítica de Jung à psicoterapia corporal em Biossíntese, criando um espaço sensível e profundo para mulheres atravessarem as transições da meia-idade com autenticidade, corpo e alma.


Saiba mais em @fernandalunardi.psi


 
 
 

Comentários


Fernanda Lunardi
Psicóloga - CRP 159430
  • Branca Ícone Instagram

Rua Cincinato Braga, 340 - 5º andar

Bela Vista - São Paulo/SP

bottom of page