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Silêncio interior é caminho

  • Foto do escritor: Fernanda Lunardi
    Fernanda Lunardi
  • 25 de ago.
  • 3 min de leitura

Mulher na meia-idade em pausa junto à janela, olhos cerrados; o silêncio interior vira caminho quando a compreensão já chegou e a direção ainda não.
Quando o que aconteceu já se compreende, o rumo ainda nasce por dentro.

Há momentos em que a compreensão chegou, mas a direção ainda não.


A cabeça sabe o que houve, os fatos estão mais elaborados cognitivamente, e mesmo assim o corpo e a mente permanecem inquietos. O silêncio interior é caminho para quando não se sabe o que fazer. Não é uma fuga, mas um espaço de presença onde algo mais essencial pode se revelar.


Na meia-idade, quando tantas transições nos atravessam, essa pausa consciente é parte viva do autoconhecimento.


Silêncio interior não é ausência de vida; é um ritmo mais verdadeiro. É quando a respiração desce, o olhar desacelera e a alma encontra um pouco de chão para reorganizar o vivido.


Nesse campo mais calmo, a tensão cede, as memórias assentam, e uma escuta mais profunda começa a nascer e oferece contorno e sentido. É um solo fértil do processo de individuação, no qual o que somos agora pode, enfim, aparecer, com mais liberdade de ser o que é.


Como chegar até ele? Primeiro pelo corpo. Na psicoterapia corporal (Biossíntese), aprendemos a convidar o sistema nervoso a voltar ao próprio ritmo: alongar a exalação, perceber o peso dos pés no chão, notar ombros e mandíbula e deixá-los descer um pouco. O corpo, quando reconhecido, responde. E essa pequena regulação somática abre espaço interno para que a emoção encontre lugar, sem se tornar avalanche.


Chegamos também pelo ambiente. Silêncio não é apenas som baixo; é menos estímulo competindo por nós. Uma xícara de café sem telas, cinco minutos de janela aberta, um contato breve com a natureza, uma planta, um raio de luz, um pedaço de céu. Pequenos rituais de pausa criam um contorno claro entre o dentro e o fora, e nos devolvem ao eixo. A vida não precisa parar: só precisa de intervalo.


Outra via é a palavra sentida. Escrever algumas linhas, nomear a sensação (“aperto no peito”, “cansaço atrás dos olhos”), admitir verdades simples (“preciso descansar”, “isso me atravessou”). Não para explicar tudo, mas para dar lugar ao que está vivo. Quando a experiência é reconhecida, a pressão por “resolver o problema” diminui, e o silêncio por dentro amadurece.


É nesse terreno que a escuta do Self acontece. Na linguagem da psicologia analítica, o Self é o centro vivo da personalidade, a totalidade que nos orienta para o que é verdadeiro. Sua voz não costuma vir em planos grandiosos; chega como um gesto pequeno, uma imagem de sonho, uma sincronicidade, um “sim” tranquilo no corpo. Ele indica o caminho, e quando seguimos esse fio discreto, as escolhas ganham qualidade, não velocidade.


Depois do silêncio, os próximos passos costumam ser menores e mais fiéis. Um limite dito com calma. Um pedido de ajuda. Um compromisso de sono. Uma conversa adiada que finalmente encontra hora e lugar. Não se trata de ter um mapa completo, mas de caminhar com presença, um passo de cada vez, em direção ao que faz sentido agora.


Se você percebe que já entendeu o que aconteceu, mas não sabe como agir, experimente chegar ao silêncio antes da decisão. Respire mais longo do que pensa, diminua um estímulo, escreva três linhas honestas. Observe o que o corpo responde e, então, escute. A escuta do Self não apressa; orienta. O rumo aparece quando o terreno interno está pronto para recebê-lo.


Fernanda Lunardi – CRP 06/159430

Psicóloga formada pelo Mackenzie, com ênfase em Psicologia Analítica (Jung) e especialização em Biossíntese (psicoterapia corporal). Atende mulheres em processos de transição, com foco no autoconhecimento na meia-idade, no resgate da essência e na integração corpo-mente-espírito por meio de uma escuta sensível e simbólica.

 
 
 

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Fernanda Lunardi
Psicóloga - CRP 159430
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