Como recomeçar com sentido na meia-idade?
- Fernanda Lunardi
- 30 de jun.
- 2 min de leitura

Nos últimos anos, escutei muitas mulheres dizerem que sentem estar vivendo no automático. Elas descrevem uma rotina que funciona como um roteiro pré-estabelecido: acordam, trabalham, cuidam da casa, atendem as demandas da família, são boas profissionais, boas mães, boas filhas. Mas, apesar de tudo estar aparentemente em ordem, há uma inquietação que insiste em se fazer presente. Um silêncio interno que, por vezes, se transforma em cansaço, em desânimo, em insônia, ou mesmo em um vazio que nenhuma conquista externa parece preencher.
Esse modo de viver – que muitas vezes chamo de piloto automático emocional – não se instala da noite para o dia. Ele vai se construindo de forma sutil, através de camadas de expectativas. Algumas vêm da família, outras da sociedade, outras ainda das próprias crenças que fomos absorvendo ao longo da vida. A mulher que “dá conta de tudo” se torna um arquétipo silenciosamente perigoso. Um modelo admirado, mas que pode custar caro para quem o sustenta sem pausas, sem escuta, sem presença.
A verdade é que, quando vivemos assim por tempo demais, acabamos nos afastando de nós mesmas. Perdemos o contato com os desejos mais íntimos, com o prazer de simplesmente existir, com a liberdade de poder escolher o que queremos – não o que esperam de nós. E é justamente na meia-idade que esse descompasso costuma se revelar com mais força. Porque o corpo muda, as relações mudam, os filhos crescem, os pais envelhecem, o tempo passa – e com ele, vem o convite silencioso para reavaliar o que faz sentido.
E é aí que muitas mulheres me perguntam: “Fernanda, ainda dá tempo de recomeçar?”
Sim. Ainda dá tempo. E talvez esse seja o momento mais potente da vida para isso. Recomeçar com sentido na meia-idade não é sobre abandonar tudo que foi vivido, mas sobre olhar com consciência para o caminho trilhado e, com compaixão, reconhecer o que precisa ser deixado, o que pode ser ressignificado, o que ainda pulsa com verdade.
Esse recomeço exige coragem – a coragem de desconstruir padrões invisíveis que nos mantêm no automático. Requer escuta. Presença. E, acima de tudo, um compromisso com a própria alma. Porque ninguém pode nos devolver o tempo vivido, mas podemos escolher o que faremos com o tempo que ainda temos.
E você? Sente que está vivendo no automático? Que nova escolha a sua alma gostaria de fazer agora?
Se esse texto tocou algo aí dentro, talvez já seja o começo da sua travessia.
Sobre Fernanda Lunardi – CRP 06/159430
Psicóloga formada pelo Mackenzie, focada na Psicologia Analítica (Jung) e com especialização em andamento em Biossíntese (psicoterapia corporal). Atende mulheres em processos de transição, com foco no resgate da essência, integração corpo-alma e escuta simbólica.
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