O corpo como casa da alma

Quantas vezes você ignorou o cansaço, os sentimentos e as sensações do corpo? Quantas vezes ele sussurrou o que sua mente insistia em calar? Na meia-idade, não apenas seu corpo físico está diferente, mas ele também acumulou mais de suas histórias e memórias. E ele pode ser a ponte para o recomeço que vem com essa fase, pois ele já não aceita mais silêncio. Ele chama, cobra e revela. E então você se pergunta: o que a morada da minha alma está querendo comunicar?

Mais do que uma estrutura física, o corpo também carrega uma dimensão sutil, que atravessa e transcende a matéria. Existe uma dança para além da biologia, um campo de energia e significado que pulsa em cada gesto, cada tensão, cada silêncio do corpo. É nesse espaço simbólico que a alma habita e se comunica.

O corpo como casa da alma: a visão da biossíntese

Na psicoterapia corporal, especialmente na abordagem da biossíntese criada por David Boadella, compreendemos o corpo como a casa da alma. Não apenas um recipiente de experiências, mas um campo vivo onde a alma se expressa. A biossíntese integra aspectos somáticos, emocionais e espirituais da existência, promovendo uma reconexão profunda com a essência através do corpo.

No corpo, memórias, traumas e potências estão registrados. Mesmo quando a alma parece silenciada, ela continua ali, brilhando sob a superfície. A dor física, o cansaço crônico, a insônia, muitas vezes são formas de comunicação do corpo com a consciência. É como se o corpo dissesse: "Olhe para mim, eu tenho algo a contar".

Trauma, memória corporal e possibilidade de transformação

Na meia-idade, é comum que sintomas antigos voltem com força: dores que não passam, ansiedades noturnas, fadiga sem causa aparente. Isso acontece porque o corpo guarda memórias de experiências emocionais não processadas. Mas Boadella também afirma: "O que aconteceu no passado você não pode mudar. Mas pode mudar como lida com isso. E isso é o começo da destinação."

Esse olhar transforma o corpo de inimigo a aliado. Ele deixa de ser um local de dor para se tornar um guia. É por isso que recomeçar pelo corpo é essencial para mulheres em transição. É o corpo que nos devolve a possibilidade de integrar história, emoção e desejo.

Micropráticas de reconexão com o corpo

A reconexão com o corpo na meia-idade não exige grandes rituais. Pequenos gestos cotidianos têm poder terapêutico:

• Respirar com as mãos sobre o coração por 3 minutos.

• Sentar-se em silêncio e perguntar ao corpo: "O que você precisa hoje?"

• Alongar suavemente pela manhã, sentindo cada articulação.

Essas práticas simples são convites para que a alma volte a habitar o corpo. Elas funcionam como pontes entre o mundo interno e externo, criando espaços de escuta profunda.

Meditação como mediação e medicina

Boadella destaca a relação entre as palavras "meditação", "mediação" e "medicina". Todas partem da mesma raiz: estar no meio, no centro. A biossíntese é, nesse sentido, uma forma de meditação somática — um caminho de retorno ao centro do ser. Não se trata de fugir da realidade, mas de habitar o presente com mais presença e inteireza.

Recomeçar com o corpo: um caminho para a alma

Recomeçar com o corpo é reescrever sua história com mais presença, mais escuta e mais verdade. É aceitar que o corpo não é obstáculo, mas ponte. Que cada sintoma pode ser um guia. Que cada respiração pode ser um recomeço.

O corpo é, de fato, a casa da alma. E cada vez que você se escuta com carinho, você volta para casa, você se afina com sua essência.

Sobre Fernanda Lunardi – CRP 06/159430

Psicóloga formada pelo Mackenzie, com ênfase na Psicologia Analítica (Jung) e com especialização em andamento em Biossíntese (psicoterapia corporal). Atende mulheres em processos de transição, com foco no resgate da essência, integração corpo-alma e escuta simbólica.