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Quando a vida corre demais e o coração fica para trás

  • Foto do escritor: Fernanda Lunardi
    Fernanda Lunardi
  • 4 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de ago.


Mulher sentada à beira de um lago, vestindo roupa esportiva verde e fones de ouvido, com expressão de cansaço emocional, segurando a cabeça com as mãos. Ao lado, lê-se a frase: "Quando é hora de parar de correr e escutar seu coração." A imagem transmite uma pausa reflexiva e o convite à escuta interior.
uma pausa da correria pode ajudar a mulher a se reencontrar

Há mulheres que só conseguiram parar com um atestado do psiquiatra. Outras, nem com isso. Continuam, mesmo exaustas, a correr, como se o mundo fosse desabar se elas simplesmente parassem e respirassem. Muitas delas não conseguem estar paradas, não porque não querem, mas porque não sabem como.


Ficam inquietas frente ao silêncio, pois estão tão condicionadas a fazer, fazer, fazer... que se esquecem de ouvir o que sentem. Não param para fazer aquilo que realmente lhes traria prazer, adiam para um depois que nunca chega. E, quando a tristeza, a raiva, a insatisfação aparecem, tratam logo de silenciá-las com distrações que não preenchem.


Essas mulheres nem se dão conta do quanto aprenderam a fazer para se sentirem com valor frente aos outros, aos pais e à sociedade. Entenderam que somente produzindo coisas ótimas, sendo úteis, as melhores naquilo que fazem, é que seriam dignas de serem amadas.


Aprenderam que emoções como a raiva e a tristeza eram erradas, inconvenientes, pois ouviram que a vida delas era "boa" e, portanto, deveriam ser gratas. Quando, na verdade, essas emoções estavam querendo comunicar alguma coisa.


Não foram ensinadas a escutar essas mensagens internas. Em vez disso, aprenderam a reprimi-las, como se sentir fosse um sinal de fraqueza ou de ingratidão.


Porém, insatisfação não significa ingratidão. Às vezes, é um chamado interno por mudança, por expansão, por uma vida mais alinhada com quem você realmente é. Reconhecer o valor do que você já viveu não impede de desejar mais, pois é possível ser grata e, ao mesmo tempo, querer evoluir.


Esse desejo por algo além pode vir acompanhado de uma sensação de vazio, difícil de explicar, um incômodo que insiste, mesmo quando tudo parece estar no lugar.


Apesar de muitas mulheres sentirem esse vazio difícil de nomear, a sensação de incompletude não deve ser confundida com fracasso. A insatisfação, por vezes, faz com que duvidem até mesmo das próprias conquistas, como se aquilo que alcançaram não fosse suficiente. O vazio existencial que aparece na meia-idade pode ser, na verdade, uma forma da voz interior tentar emergir após anos de dor abafada por uma enorme quantidade de tarefas, cobranças e sobrecargas.


Essa dificuldade de escutar a si mesma, muitas vezes, tem origem em experiências emocionais antigas, vividas ainda na infância, momentos em que não houve espaço para expressar vontades, frustrações ou vulnerabilidades.


Essa desconexão consigo mesma tem raízes profundas, ligadas a experiências precoces em que não houve espaço emocional para expressar vontades, frustrações ou vulnerabilidades. Crescemos sem aprender a nos escutar, e hoje, seguimos sem saber como fazer isso.


Com o tempo, muitas mulheres passaram a viver no modo automático, tão imersas nas exigências do cotidiano que perderam a intimidade com o próprio mundo interno.


Confundem produtividade com valor pessoal e se mantêm constantemente ocupadas, sem espaço para sentir. E, quando algo escapa e se manifesta em forma de emoção, não sabem como lidar com isso.


Nessas horas, é fundamental lembrar que emoções, sentimentos e sensações, que frequentemente são desvalorizados em uma cultura que privilegia o pensamento racional, exercem um papel essencial no nosso funcionamento psíquico. Eles não são falhas a serem eliminadas, mas sinais internos que indicam o que precisa ser reconhecido, cuidado e transformado.


É comum as mulheres só começar a se ouvir depois que o corpo grita, depois que a mente não dá mais conta, depois que a vida impõe uma pausa. E é justamente nessa pausa que elas redescobrem a simplicidade que as faz felizes: o tempo para estar com quem se ama, o café tomado sem pressa, o pôr do sol apreciado ao final da tarde.


Quando a vida corre demais e o coração fica para trás, é preciso parar. O contentamento que tantas buscam não se constrói com mais informação ou conquistas. O excesso de tarefas é o que geralmente gera ansiedade, fragmentação e a constante sensação de que algo está faltando. E mesmo quando uma tarefa é concluída, a satisfação não vem.


A possibilidade de alcançar uma satisfação real começa quando nos permitimos sentir o que está presente, sem filtro. Quando paramos de correr atrás de tudo e passamos a nos encontrar dentro de nós mesmas. E, ao aprender a estar com o que sentimos, ao deixar de fugir de nós e nos sentarmos, com coragem e honestidade, diante do que somos, é que nos aproximamos, de fato, do que verdadeiramente nos preenche.


Sobre Fernanda Lunardi – CRP 06/159430

Psicóloga formada pelo Mackenzie, com ênfase na Psicologia Analítica (Jung) e com especialização em andamento em Biossíntese (psicoterapia corporal). Atende mulheres em processos de transição, com foco no resgate da essência, integração corpo-mente-espírito e escuta simbólica.

 
 
 

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Fernanda Lunardi
Psicóloga - CRP 159430
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