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Reich e a questão da liberdade sexual

  • Foto do escritor: Fernanda Lunardi
    Fernanda Lunardi
  • 16 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 16 de mai. de 2024





Reich viveu na época de Freud, quando a psicanálise estava em plena formação e desenvolvimento na sociedade de Viena. Nesse contexto vitoriano, a psicanálise foi vista como uma ameaça ao falar sobre sexualidade, impotência masculina e frigidez feminina, pois sexo era tabu, mesmo no contexto do casamento.


A psicanálise foi se adaptando ao contexto social, no sentido de que teria de haver alguma repressão sexual em prol da civilização. Reich, destoando desta tendência, desenvolveu seus estudos em direção à relação da psicanálise na sociedade, falando em educação sexual positiva, sem repressão, como uma solução para as neuroses.


No final da década de 1928, ele trabalhou na Policlínica Psicanalítica em Viena, oferecendo atendimentos gratuitos sobre educação sexual, contracepção e orientação para problemas matrimoniais. Ele centrava-se na qualidade da vida amorosa e no conceito de potência orgástica, que tinha desenvolvido. E por que isso importa ao tema da liberdade sexual?


Para Reich, orgasmo completo estava ligado à capacidade de se relacionar amorosamente, sem separar sexo de amor. Para ele, o sentimento de amor e o sentimento sexual devem andar juntos, na mesma pessoa, na relação com ela mesma e com o outro. Nesse sentido, a potência sexual significa também capacidade de ternura, e o sexo pelo sexo seria, na verdade, impotência.


Do século passado para cá, muito mudou em relação à liberdade sexual, principalmente a feminina. Há mais informações sobre contracepção e sexo, e liberdade de iniciar a vida sexual sem a necessidade de casamento, e embora estes temas ainda sejam tabu em alguns meios religiosos, a verdade é que temos uma sociedade mais diversificada e livre. Livre em alguma medida.


A sexualização sendo exposta em shows, danças e outras expressões culturais é fenômeno de discordâncias. Recentemente, o show da Madonna no Rio provocou uma variedade de opiniões. A pergunta que ficou para mim é o que promove a liberdade sexual? Ou melhor, o que é a tal dessa liberdade?


Eu diria que Reich não entenderia um movimento de exposição do sexo, nem de permissividade, como liberdade sexual, também porque ele era a favor da privacidade das relações. Mas também não dá para negar que a Madonna dos anos 1980 e 1990, por exemplo, fez um movimento corajoso e importante de quebra das regras que preservavam a sexualidade no lugar de tabu, ao cantar sobre isso e dançar com suas insinuações sexuais.


O ponto é que hoje a sexualidade está muito em um lugar de consumo e de "liquidez nas relações", como diria Zygmunt Bauman, do que de experiência com envolvimento amoroso. Pornografias, exposições de corpos, promiscuidades não são propostas que envolvem o amor, mas que se dirigem ao consumo e à objetificação. E acabam, ainda, contribuindo para mais impotência sexual, pois nos desintegram.


A integração de pensamentos, ações e emoções é basilar no processo psicoterapêutico. O corpo guarda nossa história de vida, nossas marcas e dores e prazeres emocionais. Não é saudável dissociar corpo e mente, emoções e sensações. Como a pessoa pode estar inteira na sua sexualidade se a vive sem estar inteiro?


Então devemos cuidar da nossa sexualidade como parte do cuidado da nossa saúde mental. Entendendo e respeitando nossos próprios limites físicos e emocionais, integrando nossas emoções nas experiências que vivemos e ampliando nossas possibilidades de viver mais plenamente, com relações mais saudáveis. A psicoterapia está disponível para esse cuidado.


Sobre Fernanda Lunardi - CRP 06/159430

Com primeira formação em Direito, seguiu para a Psicologia ao desenvolver gosto pela mediação e resolução de conflitos. É formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (em ambas graduações) e em Biopsicologia pelo Instituto Visão Futuro, onde trabalhou como facilitadora. Trabalhou como voluntária no CVV - Centro de Valorização à Vida, e hoje faz especialização em Psicoterapia Corporal em Biossíntese no IABSP, e formação internacional em Psicoterapia Corporal Cênica, com Richard Hoffman.





 
 
 

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Fernanda Lunardi
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