Respostas aos traumas
- Fernanda Lunardi
- 3 de mai. de 2024
- 3 min de leitura

Já ouvi dizer que a vida é traumática. Não sei se vem ao caso concordar ou discordar, pois cada um tem sua visão particular e dinâmica sobre o que é a vida. Mas não dá para negar o teor de verdade que há nessa afirmação, que fala da inevitabilidade de traumas ao longo dela.
A psicologia considera dois tipos de trauma: o TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), que diz respeito a um evento específico e identificado que desencadeia essa resposta de estresse na nossa saúde mental, a exemplo de acidentes e períodos de guerra. E o outro tipo, os traumas do desenvolvimento, que não é identificado a partir de um evento específico.
Na linguagem do psicoterapeuta Peter Walker, o trauma de desenvolvimento é conhecido como CPTSD, ou DEPT complexo (complexo de estresse pós-traumático), e é uma desordem causada pela criação, ao longo do desenvolvimento do indivíduo, não proveniente da genética, mas de um ambiente abusivo e/ou negligente.
O CPTSD é uma síndrome traumática caracterizada por repetidas e inescapáveis situações de abuso ou negligência, abarcando as diversas forma de abuso, especialmente, o emocional, que a criança, ao longo do desenvolvimento, não tinha condições de lidar.
Eles trazem como consequência, na vida de quem sofreu esses traumas, cinco sintomas mais comuns e problemáticos: flashbacks emocionais, vergonha tóxica, autoabandono, ansiedade social e crítico interno cruel.
Os flashbacks emocionais são regressões súbitas que a pessoa sofre frente a gatilhos emocionais, que a deixam refém das respostas fisiológicas de seu corpo frente a uma situação identificada como perigo. Ela (re)vive sensações intensas de medo, raiva, tristeza e alienação. Em outras palavras, ela fica neurobiologicamente desregulada e acaba reagindo, em situações de conflito emocional, da forma que ela normalmente reagia frente às situações traumáticas vivenciadas ao longo do seu desenvolvimento. Afinal, as marcas do trauma ficam no corpo.
Outras consequências comuns a que tem CPTSD são: hipersensibilidade a situações estressantes, transtorno do apego, desenvolvimento interrompido, sentimentos de solidão e abandono, oscilações de humor e problemas de relacionamento.
Peter Walker, o autor que trouxe estes conceitos para as questões do trauma do desenvolvimento, identifica quatro tipos de respostas que são dadas aos traumas emocionais ocorridos ao longo do desenvolvimento, até a vida adulta. São estas as respostas: lutar, fugir, congelar e florear.
A resposta lutar (fight) é a resposta da raiva, a pessoa pode explodir e tentar controlar o ambiente, com críticas e culpabilização alheia. É comum entre as pessoas de estrutura predominantemente narcisista, que exigem perfeição do outro. Elas tendem a evitar a intimidade real, que podem disparar nelas estas reações.
A resposta fugir (flight), como próprio nome diz, é a de se retirar da situação estressante, mas de forma compulsiva, por conta do pânico que ela causa. É comum às pessoas que estão sempre com pressa e muito ocupadas, procurando perfeição no que fazem. Elas evitam serem acionadas por relacionamentos mais profundos, viciadas em estar sempre ocupadas. Tendem a uma característica de obsessão e compulsão.
A resposta congelar (freeze) é a resposta daqueles que se contraem frente à situação que representa perigo. Eles tendem a escapar de relacionamentos convencidos de que eles não têm nada a lhe oferecer, diminuindo contatos. São pessoas que se isolam e ficam com seus próprios devaneios. Tendem a uma característica de dissociação.
A resposta florear (fawn), faz referência àquele que lida com subserviência frente ao conflito que desencadeia seus traumas. A pessoa tende a ser co-dependente daquele tipo de pessoa que exige mais, e concentra-se excessivamente nela, anulando-se. O nome fawn, cuja tradução literal é bajulação, significa que a pessoa fica presa à necessidade de agradar o outro, mostrando muito pouco sobre si mesma.
As respostas aos traumas depende da forma que cada pessoa conseguiu lidar com as situações traumáticas de abuso (físico e/ou emocional) e negligência vivenciadas ao longo do seu desenvolvimento, quando não tinha autonomia ou outra possibilidade de se relacionar. Elas são frequentemente repetidas, na vida adulta, em momentos de flashback emocional. São, também, são muito ativadas por dificuldades nos relacionamentos atuais, que fazem a pessoa reviver situações muito primitivas, de traumas da infância.
A psicoterapia corporal ajuda na ressignificação dos traumas e oferece novas possibilidades de lidar com a desregulação fisiológica que ocorre em momentos de flashbacks emocionais. A ajuda profissional vem no sentido de acolher e de ajudar a pessoa a atravessar esses traumas a fim de relacionar-se forma mais livre, saudável e positiva consigo mesma e com o outro.
Comments